quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

UMA VISITA À GALERIA SETE



Eduardo Rosa fundou e dirige a Galeria Sete, pois é entusiasta e colecionador da arte há cerca de 25 anos. Nesta galeria, dedicada à exposição e venda de arte, em especial Arte Contemporânea Portuguesa, podem observar-se os objetos de arte nas suas diversas formas e técnicas (desenho, pintura, escultura, fotografia, vídeo, instalação). 
De acordo com o fundador, a galeria pretende ser um espaço vivo, trazendo artistas reconhecidos e emergentes e seus trabalhos para mostra, também como agente educativo junto dos jovens, cumprindo assim um papel social de divulgador, sensibilizador e educador para as artes plásticas em Coimbra. O público tem acesso livre aos seus espaços. 
Quando a visitámos, tinha patente uma exposição coletiva, denominada “Arte de Bolso”, que já vai na sétima edição e que o Clube do Património os Génios de Castro puderam ver no passado dia 25 de janeiro. Esta exposição tinha obras originais de mais de cem artistas, com a particularidade de serem de pequeno formato, pelo que não costumam ser expostas quando se fazem as exposições individuais. 
Apreciámos as obras de alguns artistas, tais como Alexandre Conefrey, António Olaio, Caio Marcolini, Carlos No, Cristina Troufa, Gema Atoche, Jorge Abade, Pedro Pascoinho, Sílvia Marieta e Vítor Pomar, entre outros. 
Cada membro do clube escolheu a obra que mais gostou e explicou a razão dessa escolha. Pudemos ver um conjunto de obras de arte muito valiosas e imaginámos qual a obra que gostaríamos de levar para casa “emprestada” por uns tempos e o local onde seria colocada. 
Por fim deu-se o assalto aos rebuçados oferecidos pelo senhor Eduardo Rosa, a quem agradecemos a gentileza e simpatia quando nos recebeu.









As escolhas artísticas dos Génios de Castro















A Constança ainda a decidir pela sua obra artística favorita.

   
                        
A Constança aproveitou a boleia e comprou a prenda de anos para a sua mamã!

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA

ROUBAR O BADALO À CABRA


Capa do jornal O Badalo, publicado no dia 25 de novembro de 1952, onde se retrata, entre outros assuntos da irreverência estudantil, os vários roubos do badalo da Cabra


Roubar o badalo à Cabra* era mais do que deixar sem voz a Universidade: era arrancar a língua ao inimigo! 
Foi por volta de 1860 que pela primeira vez teria sido roubado o badalo à “cabra” (sino da torre da universidade). Trindade Coelho no seu livro “In illo tempore”, editado em 1902, refere-se desta maneira ao acontecimento: 
No tempo em que eu andava em Coimbra, ainda a proeza dos que roubaram uma noite o badalo à Cabra era por lá muito falada! 
Eu até morei na casa onde o badalo esteve escondido, e que era, e ainda é, a chamada “Casa da Ilha”, - uma casota isolada na confluência das ruas da Trindade e dos Militares, e onde morou também Tomás Ribeiro. 
(…) 
Ora dos mil sinos que há em Coimbra, não conheceríamos nós o som de nenhum, - mas o da Cabra, que nas vésperas da aula às 6 da tarde, e nos dias de aula às 7 da manhã, se alastrava sobre Coimbra e diziam que se ouvia em Tentúgal. 
(…) 
Um dos outros sinos, que tocava por alto em dias de capelo, era o Cabrão; mas esse, coitado, não tem lenda, nem os outros. 
(…) 
E nunca me há-de esquecer que um dia, esperando nós um feriado e contando com ele como coisa certa, pusemo-nos todos, à noitinha, de ouvido à coca das 6, a ver se a Cabra tocava – e não tocou! 
(…) 
Roubar o badalo à Cabra era mais do que deixar sem voz a Universidade: era arrancar a língua ao inimigo! 
Foi, pois, o caso de três estudantes de Direito, todos eles pândegos de truz, e valentões como os que o são, assentaram um dia arranjar um feriado. 
- Como? 
- Rouba-se o badalo à Cabra! 
E foram eles mesmo que de outra vez escalaram o muro dos Arcos do Jardim, que lembra o Arco das Águas Livres, e tiraram as setas ao S. Sebastião deixando-lhe aos pés este letreiro: 
- “Basta de tanto sofrer!” 
E uma bela noite eis os nossos heróis a escalarem a muralha perto da Porta de Minerva, mais ágeis que três macacos! Uma vez lá dentro, - chave na fechadura da torre (uma chave falsa que eles tinham arranjado num ferro-velho, e que servia que nem de encomenda!) – e mesmo às escuras, toca a subir esse caracol estreito, que parece que não tem fim! – Subiram; lá em cima, com todo o panorama de Coimbra, à roda, extasiado debaixo do luar, foram-se aos vergalhos da Cabra e serraram-nos; - serrados, apagaram com mil cuidados todos os vestígios da empresa (mas não cautelosamente que não ficasse na torre o lenço de um, que foi depois o começo do corpo-de-delito quando se procurou descobrir os heróis) – e apossados enfim do pesado badalo, desceram com o trambolho pelo mesmo caminho – e sumiram-se! Era uma vez o badalo da Cabra! 


Trindade Coelho in In illo tempore. Paris-Lisboa: Livraria Aillaud & Cia., 1902 


*A Cabra tocava para anunciar as aulas ou o recolher dos estudantes no final do dia. Representava algumas obrigações odiadas pela Academia. O seu roubo, simbolicamente, era um ato de rebeldia contra essas obrigações, daí a expressão “arrancar a língua ao inimigo!”. 



quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

UMA VISITA AO MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-VELHA




Integrando o vasto património que a cidade de Coimbra possui, de visita obrigatória para se entender a história da cidade, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha foi incluído nos monumentos a visitar pelo Clube do Património Génios de Castro desde o início da programação das atividades. 
O núcleo primitivo do mosteiro foi fundado por Dona Mor Dias em 1286, mas a oposição dos monges de Santa Cruz à existência da nova casa monacal feminina levou ao encerramento da comunidade alguns anos mais tarde. 
Foi precisamente D. Isabel de Aragão, conhecida como Rainha Santa, que refundou a casa monástica e voltou a chamar as freiras clarissas a Coimbra no ano de 1314. 
A construção do edifício, orientada pelo arquiteto do Mosteiro da Batalha, Domingos Domingues, deu-se por concluída em 1330, destacando-se pela dimensão da igreja e do claustro e pelo facto da abóbada em pedra cobrir as três naves. 
A estrutura que hoje subsiste é originária deste grande empreendimento patrocinado pela Rainha Santa. 
O Mosteiro de Santa Clara sofreu desde sempre com os sucessivos avanços das águas do rio. As cheias impuseram o ritmo às obras de edificação, e a cota do conjunto do mosteiro foi sendo sucessivamente elevada, originando até a construção de um piso superior. Nos séculos seguintes, a vida das freiras viu-se condicionada pelas vontades do rio até que, em 1677, a comunidade abandonou o espaço para ocupar o edifício do mosteiro de Santa Clara-a-Nova, construído por ordem do rei D. João IV nas redondezas, mas em terreno mais elevado. 
O mosteiro de Santa Clara-a-Velha ficou então abandonado, em estado de ruína, até há poucos anos, quando foram efetuadas obras de recuperação que também permitiram a descoberta de um vasto espólio. 

Imagem antiga do mosteiro de Santa Clara-a-Velha onde se podem observar os terrenos alagados 

Atualmente encontra-se aberto a visitas do público. Este, para além de ver o património, usufrui de um Centro Interpretativo, que brinda os visitantes com exemplos da vida monástica, a história do local e a requalificação do espaço, recorrendo a meios audiovisuais. 
O Clube do Património Génios de Castro visitou o mosteiro no dia 18 de janeiro. Foi-nos mostrado um diaporama onde é retratado o quotidiano da comunidade monástica que aqui viveu desde a sua fundação. 
Visitámos uma exposição instalada no Centro Interpretativo do Mosteiro que acolhe a história do lugar e o importante espólio deixado pelas religiosas, desde porcelanas e faianças, Rosários, anéis e muitos outros objetos que permitem reconstruir o seu dia-a-dia. 
Visitámos ainda as ruínas do mosteiro Santa Clara-a-Velha que compreendem, para além da magnífica igreja com características muito peculiares, um claustro com dimensões monumentais, que o tornam no maior claustro gótico conhecido em Portugal. 
Junto à cerca, a Rainha Isabel de Aragão mandou construir um Paço onde viveu. Foi também aqui que foi sepultada.



















quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

UM SEMINÁRIO EM COIMBRA FEITO AO GOSTO ITALIANO DO SÉCULO XVIII


Seminário Maior de Coimbra



Os seminários foram criados na sequência do Concílio de Trento, que decorreu entre 1545 e 1563, para preparação dos pretendentes ao clericato. 
A primeira pedra do Seminário Maior de Coimbra foi lançada em 1748, graças ao papel de D. Miguel da Anunciação, que, para a sua construção, nele empregou a fortuna pessoal. 
O projeto, de clara influência italiana, é da autoria do arquiteto italiano Giovani Tamossi que, após ter morrido devido a um acidente da obra, foi substituído pelo compatriota Giacomo Azzolini. 
O seminário foi solenemente inaugurado a 28 de outubro de 1765. 
Até 2012, nele se ministrava a formação eclesiástica em dois ciclos: Estudos Filosóficos (2 anos) e Estudos Teológicos (4 anos), e acolhia o Instituto Superior de Estudos Teológicos para a formação de seminaristas das dioceses de Coimbra, Aveiro, Leiria, Portalegre-Castelo Branco, Beja, Cabo Verde e Macau. 
O seminário possui na entrada um grande portão, em cantaria, com porta de ferro, datado de 1876, com as armas episcopais do Bispo Conde D. Manuel Correia Bastos Pina (bispo de Coimbra entre 1872 e 1913). 
Para além do edifício central (ou Casa Velha, com cerca de 285 janelas e 15 sacadas), o seminário é constituído pela Casa Nova e Novíssima (onde se situa o Salão de São Tomás, inaugurado pela rainha D. Amélia e está instalada a biblioteca nova) e o Jardim (traçado no século XIX ao gosto barroco, com um conjunto circular de lagos com figuras mitológicas). 
Atualmente, o seminário encontra-se aberto a quem o queira visitar, oferecendo visitas guiadas para dar a conhecer o seu património e riqueza artística: a Igreja da Sagrada Família, a capela de São Miguel, a Biblioteca Velha, a Sala dos Azulejos e os Aposentos Episcopais. 


No dia 11 de janeiro, o Clube do Património Génios de Castro visitou este espaço. A visita guiada foi realizada por Catarina Ferreira. 
No meio de muito entusiasmo pudemos observar uma xilogravura de Nunes Pereira, uma tela atribuída a Grão Vasco, um Cristo em marfim e ossos de santos e apóstolos na Capela de São Miguel. 
Além disso, vimos um órgão de tubos espanhol do século XVIII, com 1.500 tubos, e duas escadas de caracol com mais de 100 degraus cada. Na biblioteca velha, que tem mais de 8.500 livros (de 1500 a 1800), graças à simpatia do senhor padre Calisto, os membros do clube foram presenteados com um momento único: a apresentação da 4ª edição de “Os Lusíadas”. 



Das varandas do seminário apreciámos uma maravilhosa vista para o rio Mondego. 



Foi-nos também explicado que continua a ser habitado, mas apenas por 12 pessoas, e que sofreu os efeitos das Invasões Francesas no início do século XIX, quando se registaram danos e pilhagens. 
Ainda visitámos a exposição de Xilogravura com o tema “O Eterno Desceu E Foi Acolhido”. A exposição pretende dar a conhecer ao público algumas peças do vasto espólio do Monsenhor Nunes Pereira que era mestre na arte da xilogravura e foi um autodidata.




















sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA



EÇA DE QUEIRÓS RELATA A SUA CHEGADA A COIMBRA 


Quando cheguei na diligência a Coimbra, para fazer exame de Lógica, Retórica e Francês, o presidente da mesa, professor do Liceu, velho amável e miudinho, de batina muito asseada, perguntou logo às pessoas carinhosas que se interessavam por mim: 
- Sabe ele o seu Francês? 
E quando lhe foi garantido que eu recitava Racine tão bem como o velho Talma, o excelente velho atirou as mãos ao ar, num imenso alívio: 
- Então está tudo óptimo! Temos homem! 
E foi tudo óptimo, recitei o meu Racine, tão nobremente como se Luís XIV fosse lente, apanhei o meu nemine, e à tarde, uma tarde quente de Agosto, comi com delícia a minha travessa de arroz doce na estalagem do Paço do Conde. 

Nota: esta é a descrição que Eça de Queirós faz sobre a conclusão dos preparatórios em Coimbra para a sua entrada na Universidade de Coimbra, em 1861. 

Eça de Queirós in O Francesismo – Últimas Páginas, vol. 2. Porto: Lello & Irmão, 1966.



Em 2011 a Câmara Municipal de Coimbra organizou uma visita guiada intitulada “Eça de Queirós em Coimbra”.

Realçamos a Adega Paço do Conde onde o escritor fez a primeira refeição em Coimbra.