sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA


Natal 


Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
De poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
Acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água
                                                                              (turva)
Na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
Acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.


Manuel Alegre in Coisa Amar (Coisas do mar)


Coisa Amar (Coisas do mar) / Manuel Alegre. Lisboa: Editora Perspectivas & Realidades, 1976




terça-feira, 18 de dezembro de 2018

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA


Natal 



Foi tudo tão pontual
Que fiquei maravilhado.
Caiu neve no telhado
E juntou-se o mesmo gado
No curral.

Nem as palhas da pobreza
Faltaram na manjedoira!
Palhas babadas da toira
Que ruminava a grandeza
Do milagre pressentido.
Os bichos e a natureza
No palco já conhecido.

Mas, afinal, o cenário
Não bastou.
Fiado no calendário,
O homem nem perguntou
Se Deus era necessário...
E Deus não representou.


Miguel Torga, in Diários




Conjunto da obra “Diários” de Miguel Torga



VISITA À BIBLIOTECA DA ESCOLA EUGÉNIO DE CASTRO






No passado dia 14 de dezembro, o Clube do Património visitou a Biblioteca da nossa Escola. 
Nesta visita à Biblioteca Escolar tivemos a possibilidade de entrar em contacto com as várias valências da biblioteca. 
Através da consulta do Menu do site da biblioteca, temos acesso a um conjunto de imagens codificadas sobre a temática do Património Cultural, que incluem propostas de “passeios” (virtuais), “leituras” e leituras com recurso a leitores de QR Code e as respetivas hiperligações temáticas que conduzirão os leitores para visitas virtuais designadamente a trezentos e sessenta graus a monumentos, museus, obras de Arte, entre outros temas, e/ou ciberlugares relacionados com o Património Cultural. 
Tem como principais objetivos: 
Conhecer o Património Cultural Europeu, utilizar as novas tecnologias e ferramentas digitais de forma pedagógica e educativa e refletir sobre o património material e imaterial. 
Tivemos o prazer de fazer os passeios virtuais diretamente através dos links que se encontram disponíveis a partir dos computadores e dos tablets disponíveis na biblioteca.











Assim terminaram as atividades do Clube do Património com os nossos Meninos a deliciarem-se com os chocolates oferecidos pelas Professoras dinamizadoras.



Alegria e satisfação com o chocolatinho na mão






segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

VISITA À EXPOSIÇÃO “ATÉ QUE O FIM RIME E A CORDA ESTIQUE” PATENTE NO CÍRCULO SEREIA


Capa do catálogo da exposição «Até que o fim rime e a corda estique» (Filipe Feijão, Jorge Maciel e Vasco Costa)
Design de Joana Monteiro


No passado dia 7 de dezembro, o Clube do Património visitou a exposição «Até que o fim rime e a corda estique», patente nas galerias do Círculo Sereia, situado por baixo do edifício da Biblioteca Municipal de Coimbra.
A interessante exposição resultou do desafio lançado pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra a três artistas: Filipe Feijão, Jorge Maciel e Vasco Costa, que possuem formação na área da escultura. A exposição ocupa três galerias e cada uma acolhe uma ocupação individual, o que transforma a exposição, coletiva, em três mostras que podem ser vistas independentemente, de modo que o próprio espetador é o corpo unificador da exposição. Todas as obras patentes são lugares do corpo e lugares do espaço.
A exposição pode ainda ser visitada, por todos os interessados, o que aconselhamos vivamente, até ao próximo dia 22 de dezembro, de terça-feira a sábado, das 14 às 18 horas. A entrada é livre.
Durante a visita os membros do Clube escolheram uma obra com a qual se identificaram e escreveram um pequeno texto sobre a mesma.


Cartaz da exposição «Até que o fim rime e a corda estique» 


O Círculo de Artes Plásticas de Coimbra foi fundado em 1958, sendo um organismo autónomo da Academia de Coimbra, com autonomia artística e administrativa.
Ao longo da sua existência tem desempenhado um importante papel cultural na cidade de Coimbra.
Tem como objetivos a promoção e difusão das artes visuais, proporcionar um conhecimento alargado dos panoramas artísticos contemporâneos, fomentar o gosto pela fruição artística e promover exposições de arte contemporânea e atividades de animação cultural pluridisciplinares.
Constitui um importante polo de produção e difusão artística contemporânea e oferece ao público um conjunto diversificado de atividades, também na área pedagógica.










Como os membros do Clube Património viram as obras


De esferovite sou
Mas de pedra pareço
Sou arte portuguesa
Mas de pouca grandeza
Acho que sou assassina
Pelo menos tenho uma mão
Morta de certeza
Pois não tem coração
Adivinhem quem sou
Ou então não
Só mais uma pista para esta lista
Tenho mais do que um material
Cada um como cada qual

Laura e Sofia







Relaxar, relaxado
Estou todo cansado
Os músculos acordarão
Para cantar uma canção
E o nosso refrão
Virá desta inspiração

Alice











Cortado ao meio 
Todo desfeito
Parti-me, quebrei-me
Mas ainda estou feito
De outra inspiração
surgiu uma nova ideia
Por que no fundo disto tudo
Sou apenas uma banheira. 

Alice e Mariana Bento













O box predomina
nesta banheira
tal como o amor
predomina neste jardim

Tomás e Vaz














Um barco de pensamentos
Num sonho de encanto.

António e Gabriel













Nas peças de Filipe Feijão 
eu refleti sobre a nossa preocupação
com coisas maiores e desinteressantes
enquanto nas pequenas pode
vir mais interessante.

Constança






Uma simples caneta que dourada ficou.     
Tanto escreveu nunca se gastou.
Mas a inspiração nunca faltou.

Manuel e Tomás Santos








quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA



Último Natal


Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Como ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.


Miguel Torga, in Diários


A vida e obra de Miguel Torga (1907-1995), pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha e um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX, está intimamente ligada a Coimbra.





Miguel Torga enquanto estudante da Universidade de Coimbra





Miguel Torga à porta de sua casa, em Coimbra





quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA



EUGÉNIO DE CASTRO VÊ COIMBRA COMO UMA MULHER 

Coimbra é como certas mulheres que, depois de haverem sofrido os maiores ultrajes do tempo e do destino, conservam ainda na decrepitude eloquentes sinais da beleza que tiveram em moças.
(…)
Paisagem feminina, pela ondulação musical dos seus cômoros e outeiros e pelo misterioso poder dispersivo, todo o português que a vir sentirá que aqui está o coração de Portugal, que é este o sítio onde afluem numa palpitação suprema, e se transformam numa doce perspectiva de águas saudosas e de arvoredos resignados, os mais ternos e característicos sentimentos da alma lusitana.

Eugénio de Castro




Eugénio de Castro (1869-1944) 

Entrou para a história da literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas "Oaristos", marco inicial do Simbolismo em Portugal.




OFICINA DE NATAL





» Oficina de Natal

        com Vânia Couto e Clube do Património da Escola Básica Eugénio de Castro


Dias 30 novembro + 7, 21 e 22 dezembro


Colégio de S. Pedro, Rua da Sofia

SE JACC em parceria com a APB (Programa de Natal)


Apresentação pública de uma oficina especialmente concebida para o Clube do Património da Escola Básica Eugénio de Castro, com o objetivo de explorar o repertório musical alusivo à época natalícia. Esta formação procura dar a conhecer aos jovens a diversidade da música subordinada ao tema da Natividade, entendida enquanto património imaterial, no cruzamento com a riqueza do património arquitetónico (material) da cidade de Coimbra. O processo de formação artística com os jovens do Clube do Património da Escola Eugénio de Castro desenvolve-se através de exercícios musicais, a partir do qual irão criar coletivamente um espetáculo, que terá uma apresentação final no Colégio de S. Pedro, na Rua da Sofia.







Esta oficina é da responsabilidade da atriz Vânia Couto, responsável pelo projeto Catrapum Catrapeia, que dinamiza oficinas e espetáculos de expressão musical e dramática, para pequenos e graúdos, numa participação ativa e didática. Desde muito jovem participou em associações de música e de teatro amador. Mais tarde, em Coimbra (onde estudou Psicologia), a paixão cresceu através do contacto com diversos organismos culturais. Entrou para o GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) em 2006, onde descobriu as raízes da música portuguesa. Foi uma das fundadoras da Tuna da FPCEUC e participou ainda em diferentes eventos culturais académicos. Em espaços míticos da cidade, como a Casa de Fados Diligência, deixou-se também embalar por intermináveis noites de Fado Vadio. Foi um tempo de aventuras que acabaram por desaguar em projetos mais sérios. Explorou novos caminhos que a levaram ao curso de Jazz da escola Sítio de Sons, onde fez formação em guitarra e voz. Em 2010 realizou o Curso de Animadores Musicais da Casa da Música do Porto, no âmbito do projeto Sonópolis, vocacionado para o trabalho com comunidades. Em 2011, na empresa Tempos Brilhantes, fundou e desenvolveu projetos educativos ligados à música e ao teatro, lecionando, atualmente, expressão musical e dramática a alunos do ensino básico, pré-escolar e creche. Neste momento está a fazer o Curso de Pedagogia Musical de Jos Wuytack, uma metodologia educativa prestigiada para crianças dos 6 aos 10 anos. 
Faz parte do projeto Macadame (música tradicional portuguesa com interpretações contemporâneas) e tem um projeto a solo. Em 2012 foi convidada para dar voz ao projeto Pensão Flor, considerado um dos melhores álbuns de 2013 e que tem vindo progressivamente a ser reconhecido pelo público nacional e internacional.




























quarta-feira, 28 de novembro de 2018

UMA VISITA AO MUSEU MACHADO DE CASTRO GUIADA PELO CHAVES, UM “VELHO” GUARDA QUE LÁ CRESCEU







O Museu Nacional de Machado de Castro, assim designado em homenagem ao conimbricense Joaquim Machado de Castro, escultor régio nos reinados de D. José, D. Maria I e D. João VI, abriu ao público no dia 11 de outubro de 1913. É dos mais importantes museus de Belas-Artes, como se pode observar pelo seu espólio de escultura, pintura e artes decorativas. 
Ocupa as antigas instalações do Paço Episcopal de Coimbra a que se acrescentou, em 2012, um edifício novo. 
Joaquim Machado de Castro nasceu em Coimbra, no dia 19 de junho de 1731 e morreu em Lisboa, no dia 17 de novembro de 1822. Recebeu formação humanista que recebeu dos Jesuítas. Esses valores, bem como a aptidão para a arte, fizeram dele o maior e mais culto dos escultores portugueses do seu tempo. Ficou conhecido pela reposição da tradição da escultura em pedra.




Joaquim Machado de Castro




A visita que o Clube do Património efetuou no dia 23 de novembro, deu realce ao criptopórtico datado do séc. I que constitui a mais importante construção romana conservada em Portugal. 
Para dar mais cor à visita, os membros do clube tiveram oportunidade de assistir a uma visita dramatizada ao criptopórtico do Museu Nacional Machado de Castro. Deparámo-nos com o ator Ricardo Calash, que personificou um "velho" guarda de museu, o Chaves, que cresceu lá dentro. Desvendou-nos o "seu brinquedo" de criança - o Museu. 
Rapidamente todos fomos "promovidos" a ajudantes de guarda para que, de uma forma ativa, pudéssemos participar e também ajudar a "organizar" toda a visita guiada. Pelo meio, o ator utilizou uma série de recursos: baralhos de cartas, truques de ilusionismo, mapas, fotografias antigas, maquete do criptopórtico, além dos recursos próprios da arte dramática, para que, de forma lúdica, pudéssemos responder a algumas perguntas tais como: 
-Quem eram os Romanos? 
-Os Romanos viveram há muito tempo? 
-O que era o império romano? 
-Como eram as cidades romanas? O que era o Fórum? 
-Como construíam eles as suas cidades? 
-Como se chamava Coimbra no tempo dos Romanos? 
-O que é o criptopórtico? Para que servia? Quem o utilizou? E em que épocas?






CONHECER A HISTÓRIA E O ESPAÇO URBANO MEDIEVAL DE COIMBRA





      

No passado dia 16 de novembro, o Clube do Património foi visitar a Torre de Almedina – Centro Interpretativo da Cidade Muralhada, que se situa em plena baixa da cidade, e que teve múltiplas utilizações ao longo dos séculos.
Tal como o nome indica, a porta de Almedina era a entrada principal da cidade intramuros, e a ela se acedia a partir da porta da Barbacã, na atual rua Ferreira Borges.
A torre foi diversas vezes reformada e remodelada, após ter sido fundada provavelmente na época do conde Sesnando Davides, que conquistou Coimbra em 1064. Foi sempre uma das torres mais importantes do sistema defensivo de Coimbra devido à sua importância estratégica, pois era o mais importante acesso à cidade.





Na visita que fizemos pudemos observar uma maqueta da cidade medieval e ter uma imagem panorâmica de Coimbra através sobreposição da antiga muralha da cidade. Além disso permitiu-nos tomar conhecimento da história e do espaço urbano de Coimbra medieval, nomeadamente as muralhas, torres de vigilância e portas. 
Visitámos também uma exposição, que se encontra patente na torre, sobre o urbanismo medieval em Portugal, denominada ‘Cidades novas medievais: a cidade como instrumento de poder’, que relaciona a construção das cidades, como instrumento de domínio real, com a composição e constituição do Reino de Portugal durante a Idade Média.








                                              ARCO DE ALMEDINA


                                   Sob o Arco de Almedina entre o ditongo e o til
                                   lá onde cheira a nardo e a jasmim
                                   no interior dos pátios entre a cedilha e o trema
                                   do outro lado da língua onde de súbito
                                   o poema.

                                   Sob o Arco de Almedina sob o arco
                                   entre azulejos e álgebra
                                    lá onde mora aquela que não vem
                                    sob o Arco de Almedina onde de súbito
                                    ninguém.

                                    Sol e sombra no canto e no silêncio
                                    sob o Arco de Almedina onde o alaúde
                                    canta um amor perdido entre salgueiros e barco.
                                    Sob o arco de Almedina. Sob
                                    o Arco.

                                                                                           
                                                           Manuel Alegre in Coimbra Nunca Vista










VISITA À LOJA DA COMUR NA BAIXA DE COIMBRA


Fomos visitar, no Largo da Portagem, no antigo edifício do Banif, a loja da Comur. Loja da prestigiada marca de conservas, com sede em Murtosa, Aveiro e fundada em 1942. 



A decoração da loja foi inspirada num dos principais ícones da cidade de Coimbra, a Biblioteca Joanina. Obra-prima do Barroco, a Casa da Livraria foi edificada sob o patrocínio de D João V. Dotada de exemplares das mais raras coleções bibliográficas, a Biblioteca Joanina apresenta um acervo de coleções dos séculos XVI, XVII e XVIII que representam o que de melhor se produzia na Europa culta do seu tempo. Não sendo possível tocar nas prateleiras da Biblioteca Joanina, na Loja da Comur podemos fazê-lo. No entanto a única coisa que podemos retirar das estantes são latas de conservas bastante arrojadas. 
O Clube do Património foi brindado com uma degustação dos vários produtos que se encontram à venda na loja.