domingo, 28 de abril de 2019

VISITA AO GEFAC


AS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR E A SUA MANEIRA DE SER

O Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) foi fundado, como Organismo Autónomo da Associação Académica de Coimbra (AAC), no ano de 1966. 
Desde esse ano, vem desenvolvendo um pormenorizado trabalho de recolha, tratamento e divulgação do património imaterial do nosso país. A sua atividade prolonga-se pela divulgação das manifestações tradicionais, formação e conceção de espetáculos originais. 
As manifestações populares são “transformadas” criativamente, quanto aos ajustamentos dos aspetos cénicos, o que resulta num espetáculo globalizante. O objetivo é acentuar o sentimento que provocou o aparecimento das manifestações e não tanto demarcar as várias regiões portuguesas. 
A instituição organiza formação, exposições, recolhas, publicações, Jornadas de Cultura Popular, espetáculos, teatro popular e performances. Este ano decorreram as “XVII Jornadas de Cultura Popular: A mulher e a cultura popular: ofícios, cantos e contos”. 
O GEFAC possui várias vertentes artísticas como Tocata, Dança e Teatro. Como organismo da Academia, durante o ano letivo fazem-se ensaios semanais abertos a qualquer pessoa que queira experimentar. 
Foi também por este o motivo que o Clube do Património dos Génios de Castro fez uma visita ao GEFAC no dia 26 de abril. Depois de nos terem sido mostradas a história e as atividades do organismo, os membros do clube foram convidados a participar nos ensaios desse dia, o que fizeram com muito entusiasmo e empenho. 

ALGUNS ESPETÁCULOS E ATIVIDADES DO GEFAC

De Lá Para Cá: Cantando e Andando

De novo Mar

Workshop “Danças Tradicionais Portuguesas”































terça-feira, 23 de abril de 2019

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA


JOSÉ SARAMAGO NA IGREJA DE SANTA CRUZ

 
José Saramago
O que ao viajante causa grande espanto é ver aqui [Igreja de Santa Cruz] deitado Afonso Henriques, quando ainda não há muitos dias o deixou à porta do Castelo de Guimarães, mais o seu cavalo, ambos muito cansados. Repreende-se por estar brincando com coisas sérias, e encara primeiro Afonso, depois Sancho, um que conquistou, outro que povoou, vê-os deitados sob estes magníficos arcos góticos e decide em seu coração de viajante que neste lugar se celebram quantos desde aquele século XII lutaram e trabalharam para que Portugal se fizesse e perdurasse. Se se levantassem as tampas destes túmulos veríamos um formigueiro de homens e mulheres, e alguns seriam os que tiraram estas pedras da pedreira, as transportaram e afeiçoaram, e, sentados nelas, na hora de jantar, comiam o que mulheres tinham cozinhado, e se o viajante não põe aqui ponto final é a história de Portugal que acabará por ter de contar. 
À mão esquerda de quem entra está o púlpito. Muita pedra e magnífica martelou João de Ruão. Este púlpito é uma preciosidade tal que do alto dele nem preciso seria que botassem fala os pregadores: com simples olhar os doutores da Igreja ali esculpidos, deveria a assistência ficar edificada, tão segura dos mistérios da Fé como dos segredos da Arte. 
Belos são também os azulejos que forram as paredes da nave, mas o azulejo deve ser olhado em doses homeopáticas: se o viajante abusa, entontece. O que vale é que na Igreja de Santa Cruz se pode passar dos azulejos historiados da nave para os de tipo tapete de sacristia. Aqui há bela pintura, o Pentecostes de Vasco Fernandes, a Crucificação e o Ecce Homo de Cristóvão de Figueiredo. O viajante sai confortado, passeia-se ao longo do cadeiral, e acha, para concluir, que Santa Cruz é muito bela. E quando sai já as mulheres não estão e são outros os conimbricenses que debaixo do arco se abrigam, cujo foi obra de frei João do Couto, setecentista. 

José Saramago in Viagem a Portugal

Viagem a Portugal / José Saramago. Lisboa: Caminho, 1994






terça-feira, 16 de abril de 2019

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA


HANS CHRISTIAN ANDERSEN ENTRA EM COIMBRA

 
Hans Christian Andersen, um dos mais famosos escritores de todos os tempos, visitou Coimbra em 1866 e deixou escritas as impressões da viagem



Coimbra está colocada numa colina, as ruas umas por cima umas das outras. Muitas casas erguem-se assim três a quatro andares acima de outras. São estreitas as ruas, que torneando a sobem. Altas escadarias de pedra conduzem, por entre edifícios modestos, de uma ruela a outra mais distante. Lojas várias, especialmente livrarias, há na cidade em grande quantidade. Por toda a parte se veem estudantes, aqui um só, de cabeça descoberta, a ler um livro, ali um grupo de braço dado. O traje que usam é pitoresco e faz-nos lembra os de Fausto e Teofrastes. Compõe-se de uma casaca longa e preta e de uma curta capa da mesma cor. A maior parte anda em cabelo, nas ruas e ao longo do rio Mondego. O barrete que alguns trazem é grande e pesado, uma espécie de barrete polaco pendente. Contaram-me que os estudantes, no Inverno, organizam uma vez por mês um espectáculo dramático, para o qual são convidados professores, residentes da cidade e respectivas famílias. Ouvem-se com frequência nas ruas guitarras e serenatas. E com guitarras ou espingardas aos ombros partem também, jovialmente, em cavalos alugados, à caça longe da velha cidade, nos bosques frescos ou nos montes, pelo gosto da vida e da aventura, assim guardando no coração recordações para os dias futuros da velhice. Deste modo, parece a vida correr alegre e despreocupada nesta natureza paradisíaca. Contaram-me, contudo, que no tempo de D. Miguel houve tumultos entre os estudantes, tendo este mandado logo enforcar alguns, o que não era de estranhar nesse tempo. 
O convento de Santa Cruz, que fica na parte baixa da cidade, é digno seguramente de uma visita. Ninguém vive aí e tudo e tudo está em abandono, mas os claustros à volta do pequeno jardim são de uma beleza verdadeiramente romântica, com os seus elegantes arcos em ruínas. Na igreja, de cada lado do altar-mor, erguem-se dois imponentes túmulos com figuras esculpidas em mármore. Aí repousam os reis D. Sancho I e Afonso Henriques. Também aqui se guarda um quadro pintado por Grão Vasco, mas no desenho e cor muito diverso das pinturas que vi em Setúbal. 
Do convento e da igreja as ruas sobem para a Universidade, um edifício grande que ocupa todo o alto da cidade. Aí, por uma das portas da cidade mais ao alto, na muralha da fortaleza em ruínas, entra-se no Jardim Botânico, rico em flores e árvores raras. Grandes palmeiras e magnólias em flor destacavam-se entre uma imensidade de outras árvores de folha e de agulha. Não se via, contudo, vivalma, e quase igualmente desolado era o belo caminho que daí partia por baixo das velhas muralhas da cidade. Erva viçosa e frescas trepadeiras cresciam por toda a parte e, à direita, nas quintas, sobressaíam laranjeiras, grandes ciprestes e sobreiros. Encontrei depois alguns estudantes, todos com os seus tarjes medievais. Um ia só, a ler um livro, três em animada conversa, as guitarras aos ombros. O seu aparecimento nestas paragens causou-me profunda impressão, era como se estivesse a viver noutro século e toda a sua poesia do passado me veio ao pensamento, mas nem de tudo tomei nota. 


Hans Christian Andersen in Uma visita em Portugal em 1866 



sexta-feira, 12 de abril de 2019

VISITA AO CENTRO DE ARTES VISUAIS


RELAÇÃO ENTRE CINEMA E ARTES PLÁSTICAS



Cena do filme “The Shining”


O Centro de Artes Visuais inaugurou um ciclo de exposições dedicado à relação que se estabelece entre o cinema e as artes plásticas. Esta inauguração foi feita com a exposição “All work [&] no play”, do artista francês Nicolas Giraud e com curadoria de Paulo Pires do Vale. 
Nicolas Giraud desenvolveu uma pesquisa artística em volta dos mecanismos de construção da imagem e o seu trabalho nas artes plásticas prolonga-se nas atividades de comissariado, de crítica e de ensino. 
Na exposição, o artista debruça-se sobre o conhecido filme “The Shining”, de Stanley Kubrick, à volta do qual desenvolve uma reflexão sobre a escrita e o universo do escritor. 

Cartaz da exposição

O filme "The Shining" está classificado como uma obra-prima do terror moderno ou mesmo como o melhor filme de terror dos nossos tempos. 
A história é de Stephen King, de 1977 e o filme, de 1980, foi realizado por Stanley Kubrick, tendo como ator principal Jack Nicholson. No filme, um professor com aspirações a ser escritor é contratado para tomar conta do “Overlook Hotel” durante o período austero das tempestades do Colorado. 
O filme pode ser visto como um estudo implacável sobre a paranoia e o desprezo. 

Mais uma vez, o Clube do Património dos Génios de Castro visitou o Centro de Artes Visuais e foi comtemplado com uma visita guiada a mais uma excelente exposição. A partir da frase da história do filme, os membros do clube datilografaram textos numa máquina de escrever antiga. 

Pormenor da exposição