quarta-feira, 1 de maio de 2019

ESCRITO EM COIMBRA À SOMBRA DE MINERVA


O LIRISMO DAS SERENATAS

Uma serenata na Coimbra de Outros Tempos

Passam cada ano gerações românticas, declamando em serões de velhas damas da Rua do Correio, ou do Corpo de Deus, o Noivado do Sepulcro e a Judia.
Época de guitarras e serenatas a desoras, com amores de virgens tísicas, de brancura ascética, que morriam em noites de lua, coroadas de flores de laranjeira, pálidas e loiras, muito loiras e frias.
Visões ossiânicas estimulando, hora a hora, a sentimentalidade de nossos avós que tantas vezes prendiam de coração as tricanas saudosas do sonho, até as levarem para a província onde ficavam ricas donas de porte heráldico e fidalga distinção, muito longe da lida consumidora e monótona do ferro.
Nos recessos da Alta há janelas desertas onde as trepadeiras secaram de abandono e se adivinham escadas de corda, descendo levemente no silêncio amigo das noites de amor.
Sobre cada pedra se faz uma jura, em todas as esquinas havia memórias de corações partidos de mágoa ou rasgos generosos de aventura que envergonham o calculismo frio da nossa idade.
Nas baladas da despedida, chorava o coro, de olhos em alvo, o enterro fatal das mocidades que voavam para a vida, sacudindo lenços brancos, molhados em lágrimas, com infinita saudade…
Adeus! Adeus!...


Hipólito Raposo in Coimbra Doutora


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