quarta-feira, 29 de maio de 2019

VISITA AO CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO 25 DE ABRIL


 O DIA EM QUE A POESIA SAIU À RUA


A poesia está na rua

O conhecido cartaz da pintora Maria Helena Vieira da Silva alusivo ao 25 de Abril de 1974 encontra-se entre os mais bonitos que a liberdade inspirou


O Centro de Documentação 25 de Abril, situado no Colégio da Graça, Rua da Sofia, 138, Piso 3, foi criado no âmbito da Reitoria da Universidade de Coimbra e é hoje uma das Unidades de Extensão Cultural e de Apoio à Formação da Universidade de Coimbra. Tem como objetivo recuperar, organizar e pôr à disposição da investigação científica o valioso material documental disperso pelo país e estrangeiro relativo à transição democrática portuguesa, mas também sobre toda a segunda metade do século XX nacional. 
Possui arquivos privados, biblioteca especializada, recortes de imprensa e arquivo audiovisual e iconográfico.

Foi, assim, com especial interesse, dada a época que atravessamos, que visitámos duas exposições que lá estão patentes: 


CAMINHOS QUE ABRIL ABRIU

O ciclo, com a denominação acima, integra a XXIª Semana de Cultura da Universidade de Coimbra, e inclui uma exposição e a projeção de um filme inédito seguida de debate. Inclui uma exposição documental, com curadoria da fotógrafa Susana Paiva, que incorpora trabalhos seus associados a imagens que fazem parte do acervo da instituição. 
A exposição “Memória a dois tempos” é composta por fotografias do arquivo do Centro de Documentação 25 de Abril e revelam-nos o território humano da emigração portuguesa na região de Paris no princípio da década de 1970. O trabalho fotográfico de Susana Paiva destina-se a criar identidades para quem delas precisava para escapar à guerra e à perseguição da PIDE. 

Homenageiam-se Luis Pascoal, importante doador do Centro, que reuniu o núcleo fotográfico original exibido e José Hipólito dos Santos, a quem pertenceram os objetos fotografados.


45 ANOS DE ABRIL

Nesta exposição pudemos apreciar alguns documentos curiosos como: 

· Carta de Câmara Reis a Hernâni Cidade, de 1924. 
Fotografia com António Areosa Feio, Albertino Dias (CGT)? Virgínia Moura, Ruy Luís Gomes, Maria Lamas e José Morgado (doação: Carolina Lemos), de 1949. 

· Postal: abril em Portugal - Dia do turista. Desenho de José Vilhena, de 1964. 

· Registo áudio: Entrevista Firmiano Cansado Gonçalves / Alexandre Oliveira, de 1965 

· Radio Universidade: boletim mensal. Lisboa. Fevereiro de 1969 

· Fotografia: crianças do Bairro da Relvinha em Coimbra, de 1972 

· Apoio ao 25 de Abril. Reclusos do Estabelecimento Prisional do Porto em 1974. 

· Registo áudio: Programa do Movimento das Forças Armadas 1- Emissão de 22 de out. de 1974 

· Fotografia - Manifestação de motoristas de táxi. Junho de 1975 

· Fotografia: Manifestação organizada pelo do Comité Coordenador dos Trabalhadores Portugueses em Inglaterra, pedindo independência imediata para as colónias portuguesas, em 1975

· Fotografia: Otelo Saraiva de Carvalho e José Afonso. Comício de apresentação da candidatura de Otelo às eleições presidenciais. Setúbal, junho de 1976


A exposição é ainda composta por capas de livros, panfletos (bilhetes da Carris com slogans alusivos ao dia de trabalho para a Nação) e primeiras páginas de jornais.
























terça-feira, 14 de maio de 2019

VISITA À TIPOGRAFIA DAMASCENO

UM MUNDO MARAVILHOSO, UM MUSEU VIVO

Interior da Tipografia Damasceno


A Tipografia Damasceno, situada na rua de Montarroio, nº 45, foi fundada em 1969 por João Damasceno, pai do atual dono, Rui Damasceno, quando deixou a Tipografia Progresso, no Pátio da Inquisição. 
No ano em que comemora o 50º aniversário, a tipografia ainda mantém algum equipamento original como o prelo, a máquina de braços e pedaleira comprados para abrir ao público. 
O atual proprietário, Rui Damasceno, começou por ajudar na atividade, mas acabou por ficar com a empresa familiar à medida que o pai e a mãe se foram afastando. 
À semelhança de outras tipografias de Coimbra e do resto do país, o negócio sofreu um grande abalo com a vulgarização das impressoras, a partir de meados de 1990, pois passaram a estar disponíveis nas escolas, repartições públicas, escritórios e casas particulares. Contudo, mantém-se ainda algum trabalho na produção de envelopes e nas edições de livros de pequena tiragem, na ordem dos 100 ou 200 exemplares. 
Atualmente, a tipografia também se dedica a um trabalho, não tanto comercial, mas mais artístico, graças à ilustradora Ana Biscaia e à designer Joana Monteiro que, por solicitação dos estudantes universitários, começaram a realizar oficinas. 

Interior da Tipografia Damasceno

Para assinalar os 50 anos da casa, a Editora dos Tipos publicou o livro “Tipografia Damasceno: 50 anos”, contendo texto, com entrevistas e registos de amigos da tipografia e uma seleção do que foi produzido naquela casa ao longo das décadas, como cartazes de bailes, peças de teatro, cadernos diários e as primeiras edições da Fenda. 
O livro Inclui também panfletos, manifestos, comunicados sindicais e registo de lutas laborais. Recorde-se que João Damasceno era conhecido das autoridades do Estado Novo como membro do Partido Comunista Português e que já havia sido preso anteriormente. 
Como a tipografia manteve uma estreita relação com os agentes culturais, na obra podemos ver o Citemor, Teatro Académico Gil Vicente, Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, ou clubes de cinema e salas de espetáculos já extintas, como o Sousa Bastos ou o Avenida. 
O livro retrata os vários caminhos percorridos pelos elementos da família que deu o nome a este espaço/oficina: Rui Damasceno, tipógrafo, ator, atual dono da Tipografia; João Damasceno (pai), tipógrafo, ator, preso pela PIDE e Odete Paixão (mãe), uma das primeiras mulheres tipógrafas em Portugal. 

Rui Damasceno

Para Ana Biscaia, a tipografia tem uma série de características que permitem pensar numa ideia de museu, com material e objetos que ainda funcionam, onde as pessoas possam descobrir como funcionava a tipografia e os estudantes de design possam experimentar. 


Sendo um local indissociável do património de Coimbra, o “Clube do Património os Génios de Castro” efetuou uma visita à oficina no dia 10 de maio. O dono da tipografia, Rui Damasceno, explicou-nos como foi fundada, a sua rica história e falou-nos também sobre a comemoração dos 50 anos e dos vários processos da impressão gráfica ao longo dos tempos. Assistimos à impressão de uma imagem de um livro que estava em processo de impressão. Foi uma tarde muito bem passada, dentro de uma das tipografias emblemáticas de Coimbra e que ainda resiste à evolução do setor.